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História

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    Situada às portas de Aveiro, em Verdemilho, esta Quinta apalaçada, denominada correntemente como Quinta da Nossa Senhora das Dores, erigiu a sua história alicerçada num encontro recorrente entre fé, arte e comunidade.

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         Sem documentação que ateste que a sua propriedade se encontra adstrita às obras religiosas responsáveis pela gestão da região de Aradas desde o século XII[1], a inscrição que encima o portão principal da Quinta torna indiscutível o seu vínculo religioso. De facto, assinalando de modo memorial a presença no espaço dos Bispos de Coimbra e do Grão-Pará, em 1747, a inscrição torna-se no primeiro objeto que permite, com certeza, atribuir uma datação e uma função ao complexo, mesmo que se acredite que este seja anterior.

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"A esta quinta vieram passar, cada um o seu dia de Junho para se divertirem os Il. mos e Ver. mos Senhores Bispos de Coimbra e o de Grão Pará, no ano de 1747"

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        Adjunta à mencionada visita dos Bispos conjetura-se que terá ocorrido, durante os anos antecedentes, uma extensa campanha de obras do qual resultou o portão principal, as guaritas, que demarcam compassadamente o espaço, e ainda uma fonte e restantes equipamentos de jardim e recreio, do qual só existem hoje vestígios fundacionais. Deste modo, poderá o século XVIII ter representado o primeiro grande momento evolutivo do conjunto infraestrutural que resiste até ao momento presente.

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          Contando com um desenvolvimento constante, a história da Quinta encontra um novo vácuo documental até ao século XIX quando aparece mencionada no testamento da Viscondessa Almeidinha, D.Maria Benedita de Souza Queiroz Pizarro. Esta informação, entre outras coisas, vem clarificar a proximidade estética e arquitetónica do corpo habitacional da casa ao paço dos Almeidinha, em Aveiro, que ardeu em 1871, e a presença do brasão partido dos Pizarros e dos Souzas adossado à fachada principal do espaço.

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           Póstuma à alusão no testamento da Viscondessa, a história da quinta cruza os seus caminhos com os dos Tavares Lebre, e torna-se difícil a partir de então contá-la apartando-a desta família. Possivelmente adquirida por José Tavares d’Almeida Lebre, figura reconhecida pela sua benevolência na Região de Aradas, foi com a ação e comportamento do seu filho, António Tavares Lebre, que a quinta conheceu os seus tempos de maior vivacidade e abertura.

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         Vivendo como um mecenas da arte, o Major António Lebre primou, sempre que possível, por contribuir e fomentar a produção cultural e artística da região. Aliando o seu apreço cultural com a sua experiência profissional de veterinário, no seu currículo, o Major conta com duas publicações Literárias[2]. A primeira, Facetas Argentinas — Remonta Portuguesa, foi escrita na sequência de uma viagem que fez à Argentina integrando a Comissão que parte de Portugal para adquirir 500 cavalos para o Exército Português. A segunda, Eça em Verdemilho e a sua Vida, publicada por sua conta e risco, surge após a comemoração do centenário do nascimento de Eça de Queirós,  a 25 de Novembro de 1949. Para além de inspiração para redigir o seu livro, por altura deste acontecimento, o Major inaugurou também na  Quinta uma sala Museu dedicada à vida e obra de Eça de Queirós. Descrito por memórias locais como um homem excêntrico e fascinado com a sua fidalguia, os livros escritos por António Tavares Lebre e o seu investimento na região deixam antever um carácter de enorme filantropia e dedicação.

            Do seu declarado gosto pela cultura, arte e festividades populares resultaram uma série de remodelações estéticas e estruturais na Quinta, que aumentaram a qualificação do espaço, considerado, desde então, pelos seus visitantes como muito aprazível,

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“ a Quinta de Nossa Senhora das Dores, muito cuidada, era duma beleza extraordinária. Para se chegar à capela, (…) transpunha-se o grande portão de ferro e atravessava-se o parque fronteiro, que a separava da rua. Delimitado a sul pela casa solarenga, com as suas largas escadarias de pedra nos dois extremos, os corrimões de ferro forjado entrelaçados por ramos de buganvília, e um alto fontanário ao centro, incrustado na parede, com um grande tanque em forma de meia lua, o parque, muito aprazível, era constituído por renques de acácias, pinheiros mansos e frondosos plátanos, sob os quais, do lado norte, havia mesas redondas de granito, com bancos de pedra, onde os peregrinos podiam repousar.” [3]

 

        Os programas de remodelação financiados pelo Major, entre 1900 e 1963, abarcaram alterações estéticas no complexo habitacional, nos muros exteriores e na própria capela que se vê ampliada e reestruturada, adquirindo capacidade para acolher o significativo número de peregrinos que chegavam um pouco de toda a parte do país por ocasião da romaria da Nossa Senhora das Dores. 

 

        É em 1900, aquando da ampliação, que a capela da Nossa Senhora das Dores se vê guarnecida do Altar cénico que lhe aufere o carácter de excepcionalidade que ainda hoje ostenta. Em 1905 os equipamentos religiosos foram aumentados e, à renovada capela, anexou-se um cómodo para venda de velas, figuras de cera e outros objetos próprios para pagamento de promessas revelando a importância que o culto e a romaria da Nossa Senhora das Dores haviam adquirido na região Norte e centro do País.

       Em 1963, em favor de uma promessa, o Major promoveu a construção de nova capela, mais pequena, com o altar devoto de Nossa Senhora de Fátima, após sobreviver a uma pneumonia. O altar em questão hoje encontra-se na capela que sucede a principal e quase passa despercebido ao olhar dos crentes. Esta seria a última campanha financiada pelo António Lebre uma vez que este faleceu 3 anos depois.

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       Na década de 1990 os herdeiros da Quinta, e atuais proprietários, continuaram o legado do Major em torno do culto religioso e providenciaram a construção de um fumeiro e outros equipamentos básicos destinados à frequência de peregrinos e ao culto. Pese embora revelando-se em alguns momentos uma herança patrimonial difícil de gerir, emocional e economicamente, os herdeiros decidiram manter uno o espaço da quinta e projeto iniciado pelos seus antepassados de forma independente.  Note-se que, apesar de ecoar na região o mito de que no testamento o Major teria imposto que a Quinta só poderia ser vendida após alcançar a 5ª geração, essa informação não passa de uma lenda regional e a manutenção do conjunto patrimonial acontece única e exclusivamente pelo apreço que os proprietários têm pela memória familiar, que tem tanto de pessoal como de colectiva.

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      Assim, durante anos a fio, a ação desta família e as suas vivências misturaram-se com o domínio da comunidade num encontro genuíno entre indivíduo e comunidade, assim como a história de fé que se escreveu por entre os seus portões se misturou indiscutivelmente com a história da arte da região que a envolve.

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[1] Ver Hugo Calão  http://patrimonioreligiosodeaveiro.blogspot.pt/p/paroquia-de-sao-pedro-de-aradas.html

 

[2] Martins, David Paiva - Fragmentos de Vida. A Minha Terra - ACAD: Aradas. 2005, p. 170.

[3] Martins, David Paiva - Fragmentos de Vida. A Minha Terra - ACAD: Aradas. 2005, p.172.

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